O “BV” oculto no mercado de casamentos

por Thaisa Dalmut
Você já ouviu falar em BV? Se trabalha no meio publicitário provavelmente já, mas talvez te surpreenda saber que essa prática é muito utilizada no ramo de eventos e casamentos! Sim, e esse assunto tão delicado (mal se encontra matérias sobre ao pesquisar no google) tem sido uma grande dúvida de nossas leitoras – algumas descobriram que seus fornecedores estavam sendo cobrados pelo assessor contratado para pagar uma porcentagem do contrato, sem que elas soubessem disso. Depois de nos perguntarem o que achamos sobre o assunto, decidimos romper os tabus e pesquisar a fundo!

Também conhecido no meio como RT ou comissão por indicação, o BV assombra muitos profissionais do meio pois muitas vezes é aplicado da forma errada, sem que a noiva, que acaba pagando muito a mais, fique sabendo
O QUE É O BV NO MERCADO DE CASAMENTOS

Primeiramente, vamos explicar como é o BV nas suas origens:

O BV se resume ao pagamento de um bônus para as agências de publicidade, proporcional ao investimento total feito pelos seus clientes em um determinado veículo de mídia. Conversamos com a Patrícia Hemely, proprietária da agência Egg Comunicação, que nos explica melhor: 

“O exercício da publicidade, desde a lei 4680 da década de 60, teve como praxe o recebimento de 20% dos custos de veiculação e 15% dos custos de produção dos materiais de comunicação. Entretanto, ainda que os clientes tivessem acesso direto aos veículos e fornecedores, não receberiam o desconto, mesmo que não houvesse agência de publicidade envolvida. Então os clientes não se sentiam lesados. 

Nos últimos tempos abriu-se a negociação e os veículos passaram a faturar pelo líquido diretamente pro cliente e as agências cobravam os percentuais do cliente. Obviamente, dada a livre negociação e a dificuldade no fechamento dos contratos, as agências têm aberto mão dos percentuais. Normalmente compensam aumentando o valor fixo cobrado do cliente, mas eventualmente apenas abrem mão desse recebimento. A APP Londrina sempre pregou a transparência das agências com os clientes e veículos de forma que as tramitações sejam claras e todos achem as negociações justas para ambos os lados.”

Claro e correto!

Mas, onde que essa prática começou a fazer sentido em um evento?

O BV (bônus de venda) não é errado, inclusive é uma prática comum em muitos outros mercados, agora o fato é que a noiva quase nunca sabe que ele existe e aí mora o problema! 
Quando o organizador cobra BV, isso significa que, além do valor do contrato da assessoria, ele ainda recebe uma porcentagem sobre (alguns ou todos) os contratos fechados com os fornecedores do evento. Logo, o valor final que ele recebe é maior devido a essa comissão. E agora que vem a parte errada: muitas vezes os noivos não ficam sabendo dessa cobrança e acham que estão economizando com esta contratação. 
Isso contradiz totalmente o conceito de um organizador de eventos, que é auxiliar para que os noivos consigam realizar o casamento que desejam dentro de suas possibilidades financeiras, direcionando para os fornecedores que mais combinem com o estilo desse casal, independentemente de pagarem ou não um comissionamento. 
Acontece que o BV comanda uma boa parte desse mercado e atua na maioria das vezes no submundo, sem transparência, sem clareza, lá na espreita onde sem saber o cliente é induzido a fechar com fornecedores X ou Y por serem supostamente “mais indicados”
E no que resulta essa prática de remuneração “oculta”?
O mercado não cresce, sofre e não evolui. A noiva que muitas vezes sonha em contratar um profissional que segue e acompanha, já ama, acaba sendo induzida a fechar com outro porque esse que ela tanto admira não paga BV, simples assim. E isso prejudica, trava, impaca o desenvolvimento e a livre concorrência!
Nada contra quem pratica, MAS TUDO CONTRA quem retrai o mercado e não é transparente com o cliente!
Fizemos uma pesquisa com alguns dos profissionais do nosso guia de fornecedores para entender o que acham sobre o assunto e situações que já passaram:
Noivos gastam dinheiro a mais sem saberem pagando BV para profissionais de casamento
Noivos gastam dinheiro a mais sem saberem pagando BV para profissionais de casamento

O que nossos fornecedores acham do assunto:

{fornecedor:1211}: Prefiro conduzir os preparativos do casamento sem receber qualquer vantagem por três principais motivos: honrar com absoluta transparência a confiança da minha noiva e qualquer ação que ela não possa saber seria, na minha opinião, antiético; focar as contratações de produtos e serviços que são o perfil do evento e não induzir o cliente à contratos que eu obteria vantagens e, por último e não menos importante, porque essa postura é muito mais benéfica para minha profissão pois preservo o respeito dos próprios profissionais do setor e na própria execução dos trabalhos no dia do evento.” 

{fornecedor:1219}:
“A Duo Borgatto não é adepto dessa prática, na verdade somos contra pois entendemos que as indicações devem ser feitas por qualidade e sinergia de trabalho para cada cliente. Nós temos nossa rede de parceiros e os indicamos de acordo com cada tipo de cliente/necessidade e não baseado no retorno financeiro (BV) imediato.

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Já ‘perdemos’ clientes por deixar claro com a assessoria em questão que não trabalhávamos com BV e tampouco mandaríamos valor de orçamento adicional já contemplando esses valores” 

{fornecedor:1214}:
Como fornecedora de doces não concordo com esse tipo de prática. Quero que meus produtos sejam oferecidos e indicados aos noivos pela qualidade, sabor, enfim, pelo reconhecimento do nosso trabalho e não nos indicar para receber uma “comissão”. 
{fornecedor:1291}
Não gosto e não concordo. Acho uma falta de ética. O objetivo de um wedding planner deve ser encontrar as melhores soluções para os noivos e não encontrar as soluções com que ganha mais dinheiro. Não cobro e inclusive todos os descontos que alguns parceiros me dão eu repasso
para os noivos.

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Em algumas organizações de certificação profissional o pagamento ou recebimento de comissõess é fator para não se aceitar esse profissional para certificar dado ser considerado anti ético. 

{fornecedor:1273}:

Não concordo com a BV. Concordo com parcerias entre fornecedores.
O que eu entendo como parceria? Parcerias são indicações de bons fornecedores, que tem comprometimento, responsabilidade e qualidade. Um evento não acontece só com um fornecedor. Exemplo: Na mesa de doces tem a mesa do buffet, a decoração e as forminhas. Cada fornecedor já recebe pelo seu trabalho logo não se justifica a cobrança.

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Entendo que cada um tenha que fazer seu trabalho com excelência, se cercando de profissionais que tenham qualidade e responsabilidade no que fazem.

{fornecedor:1267} Meu escritório estabeleceu que toda indicação leva em consideração a qualidade do fornecedor, o comprometimento com a entrega do evento perfeito e a adequação ao estilo do cliente.
Cobramos sim! Mas não dinheiro. Nós cobramos que o fornecedor esteja pronto para ouvir os desejos dos nosso clientes e que em conjunto com nosso escritório as ideias se alinhem para que o planejamento e organização aconteçam com foco na segurança e tranquilidade que o cliente espera ao nos contratar.
Cássia Schmitt do {fornecedor:1300} “Eu acredito no valor do meu serviço e comparo, muitas vezes com o de um arquiteto – porque, afinal, é isso né? Arquitetamos sonhos e entregamos a obra (só que sem uma segunda chance ou oportunidade para reparos).
Lógico que eu adoraria receber mais pelo meu serviço e ser mais reconhecida financeiramente, mas a maioria não compreende o valor de uma assessoria, então muitos profissionais acabam apresentando valores inferiores para facilitar a negociação e no andamento do evento recebem comissões expressivas para equilibrar a sua receita.
Não questiono e muito menos repreendo, faz parte do mercado, mas não é a minha forma de trabalho.” 
{fornecedor:1218}:

“Acredito que esta comissão é justa apenas se contemplar, juntos, estes dois fatores:
1) O profissional em questão precisa deixar muito claro aos noivos como ele procede com relação à comissões. É importante que os clientes estejam cientes do que acontece e como acontece. Acho muito anti ético quando os clientes não são avisados, pois pode ocorrer de estarem pagando a mais por cada serviço que contratam, mesmo já tendo pago o produtor/cerimonial/assessor (a).
2) Quando o produtor tem uma lista de indicações coerente, enxuta e baseada na confiança, indicando aos noivos os profissionais que realmente se adequam à proposta e ao estilo do casamento. E que ele traga, para o profissional indicado, contratos em negociação avançada e com chance real de fechamento. Pois o que vemos acontecer, na maioria dos casos, é que o produtor “indica” uma lista enorme de profissionais, por exemplo 10 fotógrafos, marca reuniões com todos e ainda por cima fica fazendo “leilão” de preços para ver quem abaixa mais o valor. Assim, é óbvio que o casal vai fechar com alguém que ele “indicou”, consequentemente a comissão dele está garantida, mesmo que sem merecimento.

Na minha opinião, não seguir estas duas condições denota extrema falta de ética por parte do organizador do casamento.” 

{fornecedor:1259}:
“Nunca cobrei e nem acredito que deva. Devo cobrar pelo meu trabalho, e tenho a obrigação de oferecer aos meus clientes bons profissionais, e não profissionais que sejam indicados apenas pelo recebimento de comissoes.

A minha maneira de trabalhar é cobrar apenas pelo meu trabalho, e ainda a ajudo a conseguir os melhores descontos junto aos meus parceiros.” 

Nemora Viana {fornecedor:668}:
“EU ACHO ANTIÉTICO, não acho honesto com o cliente, não acho transparente. Não pratico e não concordo. Eu penso que o cliente já esta pagando pelo meu trabalho, por quê eu deveria ganhar de fornecedores para favorece-los? Se o fornecedor presta um serviço de excelência e qualidade eu certamente indicarei, não precisa haver uma contrapartida para isso! De igual forma espero que façam isso com relação ao meu trabalho!
Sou honesta em falar, mesmo quando elas não perguntam, que eu não pratico e não concordam e que elas podem ter certeza que na maioria das vezes eu até encaminharei os emails com cópia na integra pois não há nada a esconder do meu cliente! 
Janaina Biscaia {fornecedor:1237}:
Sinceramente, eu acho que nós como orientadores dos noivos, temos que realizar as indicações dos fornecedores de acordo com o perfil de nossos clientes, levando em conta sempre o bom senso e o bom gosto. Eu costumo entender nas primeiras reuniões o estilo do cliente para conseguir indicar o fornecedor que vai entregar o melhor trabalho e dentro das expectativas. Claro que existe os fornecedores que gostamos muito de trabalhar e sabemos que a parceria “flui” e nós, como influenciadores, precisamos saber fazer esse intermédio. O melhor é a indicação entre profissionais pela qualidade de cada um e pela parceria. É o caminho mais verdadeiro dentro desse universo de casamentos, trabalhamos com sonhos o tempo todo.

Nunca paguei e nunca recebi. Isso nem entra em questão quando indico clientes aos fornecedores (foto, buffet, decoração), por exemplo. Procuro fugir de vendas casadas. Mas conto com ajuda para que os noivos consigam flexibilidade em valores ou condições de pagamento.” 

{fornecedor:1228}: Não acho legal, pois isso restringe muito o acesso a trabalhos ótimos que não fazem parte das “panelinhas” que existem entre os fornecedores mais antigos. 
{fornecedor:1266} Nós somos totalmente contrários a essa prática, sendo inclusive uma das maiores premissas da nossa empresa. Acreditamos que favorecer grupos de fornecedores prejudica a competitividade do mercado, induz empresas a se acomodarem e não buscar novidades e, acima de tudo, oneram de forma desleal nossos clientes. Afinal, se os noivos já estão pagando pelos seus serviços, por que eles ainda devem pagar por bonificações extras?”
{fornecedor:107} “Acreditamos que seja injusto com os noivos. Pois quem acaba pagando são eles. Ou eles teriam um serviço mais barato com a produtora, ou o valor é acrescentado no orçamento, e eles acabam pagando mais caro. Se o profissional for transparente com os noivos e deixar claro desde o começo que é uma prática que faz parte do trabalho deles não vemos nenhum problema, desde que não interfiram nos preço praticados pelos outros profissionais contratos.”
“Bem, essa é uma prática que existe em vários mercados, não só de casamentos. Quando não é uma porcentagem absurda e realmente existe uma parceria entre empresas, não vejo problema nisso, contanto que os noivos tenham consciência, que tudo seja feito com transparência” – Anônimo 
“Não concordo na maioria dos casos. Pois o Assessor ou empresa já está cobrando a parte dele do cliente. Porém, aceito pagar quando o envolvimento do serviço exige um maior trabalho, estudo, layout e dinâmica. Coisa que raramente acontece, normalmente já pedem orçamento com o bv incluso, porém são raros os casos!” – Anônimo  
Noivos gastam dinheiro a mais sem saberem pagando BV para profissionais de casamento

E o que a lei diz?

Consultamos a adovgada Beatriz Batisti, do site advoga.com para entender o que a lei diz sobre isso: 

“A cobrança do “BV”, sem que o casal tenha expressamente concordado com a prática, além de antiética, contraria princípios importantíssimos do Direito do Consumidor. No âmbito jurídico, o consumidor é considerado a parte mais vulnerável da relação, e por isso se encontra protegido pela lei em tantos aspectos. Em geral, o Princípio da Transparência e da Informação, presentes no Código de Defesa do Consumidor, obrigam o fornecedor a prestar todas as informações sob o produto ou serviço que está sendo ofertado. Não basta ao assessor ou às empresas se absterem de falsear a verdade, estes devem apresentar correta e claramente ao casal tudo que for indispensável para a decisão de contratar ou não o fornecimento dos produtos/serviços. A lealdade e o respeito nas relações entre consumidor e fornecedor devem acontecer mesmo na fase pré-contratual, a evitar, inclusive, os danos causados pela omissão desde o momento de negociação dos atos de consumo.”
Para quem não conhece o advoga é uma plataforma inovadora de agendamento e videoconsultas com advogados sem precisar sair de casa, lá você pode encontrar um profissional especialista e consultar-se em tempo real por videoconferência. Acesse: advoga.com
Noivos gastam dinheiro a mais sem saberem pagando BV ou RT para profissionais de casamento

Como saber se estou sendo cobrada?

Primeiramente, é preciso deixar claro que a maioria dos assessores/organizadores de eventos atualmente não pratica essa forma de cobrança. Um bom assessor é fundamental pra que seu casamento seja um sucesso e vale muito a pena o investimento, que acaba sendo revertido em economias no final das contas (confira aqui como escolher o organizador ideal para o seu grande dia).

Se o organizador de eventos trabalha com comissão, isso deve ser especificado no início do contrato e combinado de maneira clara com os parceiros. De forma alguma esse valor deve ser cobrado sem o conhecimento dos noivos que estão efetuando o contrato. Pergunte ao seu organizador de eventos sobre essa questão e tenha certeza do que você está fechando com ele. Segundo a lei, se isso for combinado às claras não está errado, o problema está na omissão desse fator importantíssimo da noiva que os contrata. 
Desconfie quando:
– O Valor praticado para assessoria completa é muito abaixo da média praticada no mercado – pode ser que a diferença esteja sendo compensada em forma de BV.
– A diferença do pacote de assessoria “parcial” ou “do dia” é muito pequena em relação ao pacote de “Assessoria Completa” – não faz muito sentido trabalhar um ano inteiro cobrando praticamente o mesmo valor do que se pratica para trabalhar apenas durante uma semana.
– Os contratos de terceiros forem feitos em nome da empresa de Assessoria.
– Se sentir pressionada por fechar com alguma empresa que não tenha se identificado ou ainda, sentir resistência da assessoria em marcar reuniões com profissionais que você própria tenha cogitado. 
– A equipe de trabalho é sempre a mesma em todos os casamentos – Os casais são diferentes, cada casamento é único e existem profissionais especializados para cada estilo de cliente/evento.
Se estiver desconfiada: Quando achar o valor de um profissional que você indicou (aquele que você queria tanto) muito acima do esperado, faça o trabalho de “cliente oculto” e peça um orçamento direto à empresa para confirmar se ele não foi superfaturado.
Nessa matéria falamos mais sobre como ter certeza que você está contratando um profissional de confiança, vem ver. 
Aqui também falamos sobre 12 erros super cometidos pelos noivos que você pode evitar.
E você, já passou por algum caso relacionado ao BV? o que acha dessa prática? Conta pra gente nos comentários!
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